TRAGÉDIA EM PE: SOLDADO MATA CABO DENTRO DA VIATURA


Em um mesmo fim de semana, três policiais foram vítimas da violência. Na noite da sexta-feira, o delegado da Polícia Civil Joel Venâncio foi assaltado no bairro de Porta Larga, em Jaboatão dos Guararapes. No sábado, a policial civil de Porto de Galinhas, Tatiana Ribeiro de Melo, reagiu a um assalto e acabou baleada e morta, em Abreu e Lima. Ontem, em Apipucos, no Recife, outra morte. Desta vez, um policial militar, do banco de trás da viatura, matou um colega de trabalho, o cabo Adriano Batista.



Uma discussão sobre cotas raciais entre dois PMs acabou na morte do cabo do 11º Batalhão da Polícia Militar. Adriano Batista da Silva, 42, levou um tiro na cabeça enquanto dirigia a viatura da Patrulha do Bairro Guabiraba/Pau Ferro. O disparo foi efetuado pelo colega de plantão, o soldado

Flávio Oliveira da Silva, 32, que estava no banco de trás do carro. O crime ocorreu por volta das 8h na Rua João Batista de Rego Barros, bairro de Apipucos, Zona Norte do Recife. Adriano Batista chegou a ser socorrido para o Hospital da Restauração, mas não resistiu ao ferimento. Era o último plantão dele antes de entrar de férias.

O Cabo é o 18º Policial morto esse ano em Pernambuco.

CABO ADRIANO
                   
Dentro da viatura também se encontrava a policial Thaena de Lima Lemos Santos, que não ficou ferida, mas ficou em estado de choque. De acordo com informações da PM, a confusão começou logo após o trio sair para o plantão. O cabo Adriano decidiu voltar à sede do batalhão para deixar o soldado, por seu comportamento exaltado durante um debate sobre cotas raciais. As primeiras informações repassadas por Thaena indicam que a vítima era contra o projeto das cotas e o colega, a favor. Nenhum dos dois, no entanto, fazia parte do sistema.
Após o cabo ser atingido por um tiro, a viatura ficou desgovernada e bateu em dois veículos: um Fox branco e um Gol modelo antigo, também branco. Os motoristas dos carros não ficaram feridos. De acordo com o chefe do planejamento operacional do 11° Batalhão, Major Luís Cláudio de Brito, a soldado Thaena de Lima Lemos impediu que a viatura caísse no açude de Apipucos. Ela, inicialmente, achou que o disparo teria sido feito de fora do veículo, correu 400 metros até chegar na sede do 11ºBPM em busca de socorro ao ver o amigo ferido.



O soldado Flávio Oliveira foi detido no próprio batalhão onde os policiais são lotados. Depois, prestou depoimento à Corregedoria onde foi autuado em flagrante por homicídio qualificado. O crime será investigado pela corporação, uma vez que ocorreu dentro da viatura. Ele será submetido ao Código Penal Militar e deve ser enquadrado no artigo 205 (motivo fútil, sem opção de defesa e prevalecendo-se o agente da situação de serviço). A pena varia de 12 a 30 anos de prisão. Na corporação muitos policiais passaram a usar uma fita preta no braço em sinal de luto. O enterro será realizado hoje, às 15h no Cemitério Parque das Flores.

FLÁVIO OLIVEIRA-AUTOR DO DISPARO
                 

Os casos são tratados como isolados. O PM Adriano Batista da Silva, 41, tirava apenas o quarto plantão com o soldado Flávio Oliveira, descrito por ex-companheiros de batalhão como “problemático”. O assassino passou mais de um ano em reabilitação por abuso de álcool e já havia passado por intervenção cirúrgica neurológica. Foi considerado apto a oferecer seus serviços à população pelo setor de psiquiatria da corporação. Teria puxado o gatilho por conta de uma discussão iniciada minutos antes sobre cotas raciais. 

O Cabo Adriano tinha 10 anos na Corporação e deixa mulher e filho.
              CABO ADRIANO
                       

“O que prevalece na instituição não é transferir, mas tratar o problema. A PM está pautada nos princípios de direitos humanos para lidar com a sociedade e também com o quadro interno”, afirmou o diretor-adjunto de articulação social e direitos humanos, major Cláudio dos Santos Silva, do grupo de trabalho criado em 2013, que promove palestras, inclusive, sobre questões étnico-raciais “a exemplo do atual curso de formação de soldados, com 1.117 policiais militares, que estudaram a disciplina de diversidade étnico-sociocultural”, como frisa a nota emitida pela corporação. 

O Comando Geral também empenhou o Centro de Assistência Social, o departamento médico e representantes de todos os batalhões, a fim de compreender os motivos do que considera uma “solução fútil e covarde com que se deu o desfecho do caso”. 

“Há uma pressão enorme por resultados na diminuição do Crimes Violentos Letais Intencionais, de modo a chegar a obrigar-se que um policial problemático, que não deveria estar nas ruas, seja escalado. Há vários outros com problemas de saúde. Desse (Flávio), todo mundo sabia”, não há acompanhamento psicológico sistemático, os PMs não passam por uma formação continuada e as chamadas “reciclagens” acabam inviabilizadas por conta das escalas. 

Não foi o primeiro caso de assassinato de um policial por um colega. Há um mês, o escrivão Luciano José Gonçalves Bezerra, 36, foi morto por um agente da Polícia Civil, em Triunfo. Em março, o PM baiano Mauro Simões foi morto a tiros em Petrolina por um policial civil de Araripina. Ambos, por desentendimentos.
Os dois policiais civis assaltados no fim de semana não estavam no exercício da profissão. Fora de serviço, engrossaram as estatísticas dos quase 200 assaltos diários que somaram 33,9 mil casos (entre os registrados) apenas no primeiro semestre de 2015.

Fonte: Diário de Pernambuco



Comentários

  1. Anônimo1/9/15 01:17

    Segue minha solidariedade de pesar aos familiares, e a todos que fazem a
    Corporação Policial Militar, pela perda de um profissional que saiu de sua
    casa com o objetivo de combater a criminalidade dando segurança a
    sociedade, e que foi vitima por parte de quem estaria ali com o mesmo
    objetivo.

    Atenciosamente,
    ANTONIO AMARO

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